O ministro da Economia, Paulo Guedes, entregou para a Câmara dos Deputados a proposta de reforma tributária do governo. As medidas incluem propostas de tributação que mexeram com o mercado financeiro. No texto, uma tributação de dividendos, o fim da isenção sobre rendimentos pagos a pessoas físicas no caso de fundos de investimentos imobiliários (FIIs) e fundos multimercados exclusivos também passam a pagar tributação no mesmo patamar que os demais.
A divulgação do texto ocorreu em um momento em que os FIIs estavam ganhando cada vez mais relevância nas carteiras dos investidores em época de juros baixos. Agora, com a notícia da possível tributação, a dúvida sobre como agir pode, até, precipitar as decisões de muitos investidores, como a venda de ativos sem uma análise profunda e ponderada.
Antes de mais nada, é preciso salientar que a tributação das FIIs, ou seja, a tributação de rendimentos dos fundos de investimentos imobiliários, é, ao menos por enquanto, apenas uma proposta. O texto enviado pelo governo federal precisa ser aprovado pela Câmara, depois enviado para o Senado e, por fim, sancionado pelo Presidente. Se houver mudanças em alguma das casas, o texto volta para a outra e o processo, ainda que terminando em aprovação, pode gerar um resultado bastante diferente do que é esperado com base na proposta apresentada por Guedes.
Antes de seguir o movimento aparente do mercado e vender FIIs, é preciso analisar o real impacto dos números. Hoje, o Índice de Fundos de Investimentos Imobiliários (IFIX) tem um yield médio de 7,5% ao ano, nos últimos 12 meses. Caso a proposta seja aprovada, este yield médio vai cair para 6,4%, já que passa a incidir o imposto de renda nos rendimentos.
Ou seja, apesar da queda é ainda melhor que o nível de juros da economia. Atualmente, a taxa básica de juros, Selic, está em 4,25% a.a., segundo o Banco Central. As expectativas de mercado para os próximos anos é de uma Selic já a 6,25% a.a., segundo o mais recente Boletim Focus.
Mesmo se o investidor decidir deixar de investir em FIIs, fazer uma venda na hora errada pode custar muito mais caro do que essa diferença de retorno no yield de rendimentos. Com o anúncio da possível reforma tributária e tributação das FIIs, o IFIX fechou em queda e já acumula uma variação de -3,83% em 2021. Em 25 de junho, quando Guedes apresentou sua proposta ao Congresso, o IFIX fechou com uma queda de 2,02% e muitos fundos chegaram a cair abaixo de seu valor patrimonial.
Assim, a venda no momento errado pode repercutir em uma perda de investimentos dificilmente recuperável. Por isso, é essencial não tomar decisões precipitadas e analisar sua carteira de investimentos como um todo.
A principal maneira defendida por especialistas para proteger uma carteira de investimentos das variações e riscos do mercado é que ela seja diversificada. Por isso, não necessariamente é hora de vender todos os ativos de um tipo específico. Ainda mais quando se trata de FIIs, é preciso fazer uma análise de longo prazo e que vai muito além de uma reação emotiva com base em notícias de potenciais fatos - muita água pode rolar nas disputas políticas no Congresso antes de aprovar todas as medidas como elas estão agora na proposta de Guedes.
Os fundos imobiliários precisam ser vistos, então, como uma estratégia de alocação e diversificação, sempre com vista no longo prazo. Uma carteira diversificada inclui não só ações e títulos de renda fixa, mas outros tipos de ativos, inclusive imóveis. Os FIIs são uma maneira profissional de se investir no mercado imobiliário para compor uma carteira.
Só que ao alocar em ativos como os FIIs, é preciso manter em mente que esses fundos têm volatilidade, e não deixam de ser ativos de renda variável. Os fundos ainda trazem uma série de vantagens que ajudam a diversificar portfólio, inclusive com a possibilidade de variar os projetos ou conjuntos de projetos, localização e locatários. Tudo isso com a vantagem de ter uma maior liquidez do que o investimento em um imóvel direto.
Por conta dessas características particulares dos FIIs, o ideal nesse momento é fazer uma análise muito mais detalhada na sua estratégia de alocação e nos impactos de uma mudança.