O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), fechou o mês de setembro com deflação de 0,29%, em comparação com agosto, trazendo o acumulado no ano para 4,09% e, nos últimos doze meses, de 7,10%.
As quedas consecutivas do IPCA trouxeram muitos questionamentos quanto ao desempenho dos ativos indexados ao índice, pois algo incomum de se observar ocorreu nos últimos meses, e a rentabilidade de alguns papéis chegou a apresentar desempenho negativo.
- O cálculo do PU dos ativos IPCA
A maior parte dos ativos indexados a este índice apresentam uma remuneração IPCA + taxa de juros, por exemplo, “CDB INSTITUIÇÃO XPTO IPCA + 3%”. De forma simplificada, podemos dizer que a fórmula para o cálculo do PU será o produto entre o Valor Nominal Atualizado (VNA), que é o valor de emissão do ativo corrigido pelo IPCA, e a taxa de juros acordada na compra, convertida para uma taxa diária com base 252 dias úteis:
A parte que corresponde a taxa de juros é calculada de forma contínua da emissão do papel até a data de vencimento. A porção correspondente a atualização do VNA é mais complexa e possui maior impacto no valor PU. Ela é dividida em períodos que dependem das datas de emissão e vencimentos do ativo (data de aniversário), sendo que cada um deles utilizará um IPCA diferente no cálculo.
Por exemplo, um CDB IPCA + 5%, emitido em 10/05/2022 e com vencimento em 10/05/2023. A partir do dia 11 de maio, calcularíamos diariamente o valor do VNA utilizando o IPCA de abril, até o dia 10 de junho. Do dia 11 de junho até o dia 10 de julho, seria utilizado o IPCA de maio, e assim por diante. Dessa forma, teríamos a seguinte situação:
Período |
IPCA utilizado |
Variação (%) |
11/05 até 10/06 |
Abril |
1,06 |
11/06 até 10/07 |
Maio |
0,47 |
11/07 até 10/08 |
Junho |
0,67 |
11/08 até 10/09 |
Julho |
-0,68 |
11/09 até 10/10 |
Agosto |
-0,36 |
Seguindo a lógica apresentada até aqui, teríamos um cenário em que do dia 11 de agosto até 10 de setembro, o VNA sofreria uma retração no seu valor. Analisando a trajetória do preço no mês de agosto, a variação negativa do IPCA teria impactado o PU desse ativo durante a maior parte dos dias uteis do mês, o que poderia trazer a rentabilidade do ativo para perto de zero.
Para esse mesmo CDB do exemplo, o sistema Smartbrain calculou os seguintes preços para as respectivas datas:
Data |
Valor do PU |
30/06/2022 |
1,020775 |
29/07/2022 |
1,030990 |
31/08/2022 |
1,033291 |
30/09/2022 |
1,032640 |
Utilizando esses PUs, chegaríamos nas seguintes rentabilidades para os meses:
Mês |
Julho |
Agosto
|
Setembro |
Rentabilidade |
1,00% |
0,22% |
-0,06% |
Podemos perceber que, ainda que o IPCA de julho tenha sido deflacionário, o impacto no preço do ativo só passou a ocorrer nos meses seguintes a sua divulgação. Embora o IPCA de julho tenha sido -0,68%, a rentabilidade do papel para o mesmo mês foi 1,00%.
Os cálculos dos preços dos ativos discutidos neste artigo podem ainda apresentar comportamentos distintos quanto aos índices utilizados para cada período de cálculo, a depender das datas de emissão e vencimento. Algumas situações, por exemplo, podem utilizar o IPCA projetado pela ANBIMA, ou, ainda, utilizar os índices de meses anteriores.
Desse modo, vale a pena o gestor conferir as possibilidades, avaliar as perspectivas de juros e inflação para os próximos anos e construir o portifólio dos clientes tendo em mente diversificação, mas coerente com o perfil de cada investidor.
Sobre a Smartbrain
É a mais completa plataforma de consolidação e gestão de investimentos para profissionais do mercado entre eles: gestores de patrimônio, family offices, consultores de investimentos, corretoras, distribuídoras e plataformas de investimentos.
Conheça as soluções da Smartbrain para realizar uma gestão completa das carteiras de seus clientes.