A Bolsa de São Paulo voltou a movimentar os noticiários do mercado financeiro ao renovar recordes ao atingir 130 mil pontos, após atravessar momentos conturbados com a pandemia do novo coronavírus, que fez não apenas o Ibovespa despencar, como impactou os mercados no mundo todo. Mas não é apenas a renda variável que tem estampado as manchetes econômicas do país. Enquanto a Bolsa volta a subir, a taxa básica de juros do país, juntamente com as previsões do IPCA, seguem na mesma direção.
Na segunda-feira, 07, o mercado financeiro voltou a revisar a previsão para o IPCA em 2021. Agora, a alta para a inflação no ano passou de 5,31% para 5,44%. Há um mês, estava em 5,06%. Enquanto isso, a taxa Selic, que chegou ao menor patamar da história em agosto de 2020, voltou a subir e a expectativa é que a tendência se mantenha.
Após elevar a taxa para 3,5% ao ano na última reunião, a expectativa é que até o final do ano o Copom siga o movimento de alta. Importante lembrar, porém, que apesar do aumento, a taxa ainda está longe dos seus tempos de dois dígitos - durante os últimos seis anos a taxa vinha em uma sequência de quedas que apenas foi revertida no início do ano.
Agora, o mercado projeta que o Copom aumente a taxa dos atuais 3,50% para 4,25% ao ano na próxima reunião do comitê, em julho, como medida para tentar frear a alta inflacionária no país, que vem chamando atenção da população, principalmente pelo impacto nos preços dos alimentos e da gasolina.
O cenário atual e as perspectivas para curto e médio prazo são, segundo projeções do mercado, de alta de juros e alta da inflação. Nesse sentido, muitos passaram a se perguntar: qual a melhor alocação para as carteiras de investimentos?
Para explicar um pouco mais o cenário, conversamos com o especialista Walter Neto, CEO da consultoria Overclub | Family Office.
Smartbrain: Em termos de composição de carteira, qual a melhor estratégia na hora de estruturar?
Neto: Depende do que você quer dizer com "melhor estratégia". Se se refere a melhor estratégia como aquela que possivelmente entregará o maior retorno, aí sim a variável em um cenário de recuperação e crescimento econômico será a que tem a maior probabilidade de entregar a melhor rentabilidade entre as classes de ativos.
Entretanto, não é dessa maneira que nós fazemos alocação de recursos no Overclub. Ou seja, nós não fazemos uma alocação de recursos baseado em cenário econômico de curto prazo se nós entendemos que bolsa será um ótimo investimento porque teoricamente as empresas vão se beneficiar de um melhor ambiente nós não iremos aumentar a nossa posição em bolsa por esse motivo.
Smartbrain: Como funciona a alocação, então?
Neto: A única forma de aumentarmos a exposição em uma determinada classe de ativos é baseado na alocação macro estratégica (asset allocation) definida no início, ou seja, fazemos o rebalanceamento de classes. Se a renda variável se mostrar o investimento mais rentável e ficar com participação acima do ideal, resgataremos e alocaremos na classe que está com o percentual menor do que gostaríamos e vice-versa.
Resumindo, não faremos nenhum tipo de alocação baseado em projeção de cenário econômico. A estratégia de Market Timing ou futurologia em busca de otimizar o resultado da carteira, historicamente se mostrou um fracasso.
Smartbrain: O que é preciso analisar e considerar em um momento de alta no juros e inflação? Há algo para ficar atento para não tomar uma decisão que pode comprometer os ganhos mais à frente?
Neto: O momento de alta de juros e inflação não deve servir para tomada de decisão quanto à alocação ou não em uma classe de ativo. Entretanto, é muito importante, sim, o investidor se atentar para o impacto que o possível cenário irá causar no portfólio.
Smartbrain: Como assim? Você pode dar um exemplo?
Neto: Imagina o seguinte, você vai no médico fazer uma cirurgia e o médico te explica que ao sair da cirurgia você vai estar com o olho roxo e com a cara inchada, mas que daqui a uma semana vai parar de doer e que daqui a um mês tudo vai estar “tudo bem”. Provavelmente, ficará muito mais confortável do que sair da cirurgia e estar inteira roxa e inchada, concorda?
Pois bem, é esse o papel fundamental do assessor, a comunicação. Em um cenário de alta da inflação o cliente precisa saber que a parte de renda variável possivelmente será impactada negativamente e que isso é normal e faz parte de um processo de amadurecimento da carteira.
Esta comunicação permite à família atravessar momentos difíceis sem deixar se influenciar pela emoção que poderia resultar no resgate de investimentos promissores no longo prazo. Uma alta nos juros ou uma alta da inflação ou qualquer tipo de cenário não deve ser motivo de tomada decisão de investimento ou desinvestimento caso a lição de casa da alocação estratégica de ativos tenha sido bem feita.
Smartbrain: Nesse caso, então, quais cuidados o investidor precisa ter?
Neto: O cliente deve estar atento para não se deixar levar pelas emoções de mercado para não resgatar bons investimentos no longo prazo que passam por um momento de queda nos preços e não investir demasiadamente em investimentos que tiveram alta nos preços e como consequência possuem menor retorno esperado no futuro.
Smartbrain: Vocês acreditam que esse cenário de alta nos juros e de inflação próxima do teto da meta deve permanecer no longo prazo? Ou a tendência é de melhora em médio prazo?
Neto: Sinceramente eu não sei e já sei muito, quem fala que sabe, sabe menos ainda (risos).
É muito difícil prever o que vai acontecer e sinceramente pouco importa quando você segue uma alocação estratégica de recursos, mas como o mercado é cíclico a tendência, sim, é de melhora no médio prazo.
Um dos maiores riscos que o investidor brasileiro pode correr é não investir fora do país, de resto o asset allocation local dá conta.