Junho sem dúvida está sendo um mês intenso na bolsa de valores no Brasil. Afinal, o Ibovespa, principal indicador da performance de ações listadas na B3, bateu recorde atrás de recorde e superou os 130 mil pontos, marca inédita para o índice. No início do mês, o Ibovespa chegou a fechar em alta por oito dias seguidos, mesmo com a pandemia ainda não controlada no país.
Alguns fatores influenciaram essa alta, puxada bastante pelo aumento do preço das commodities, por exemplo. Analistas de mercado também apontam que o avanço nas campanhas de vacinação contra Covid-19 impulsionam o mercado - com perspectiva de melhora considerável no consumo e na economia a partir do segundo semestre.
Além disso, as taxas de juros também influenciam e muito o comportamento do investidor, já que investimento em renda fixa e títulos públicos acabam ficando menos atrativos com a taxa de juros em patamares baixos.
São diversos os fatores que influenciam na renda variável e para entender um pouco mais sobre eles, a Smartbrain conversou com dois gestores sobre essa movimentação da bolsa e o que esperar para o futuro, inclusive quais setores saem mais fortalecidos das primeiras ondas da pandemia e são mais promissores.
Confira o bate papo com Ciro Aliperti, da SFA Investimentos, e Leonardo Gragnano Morales, da Asa Investments.
Smartbrain: Qual a avaliação sobre o novo recorde da Bolsa e a tendência é que o recorde seja superado e o Ibovespa siga subindo?
Ciro Aliperti, SFA Investimentos: Continuo com uma perspectiva positiva para Bolsa ao longo do segundo semestre. Apesar de ser uma recuperação cíclica, a economia segue melhorando e a tendência é que continue assim à medida que a vacinação avance. Temos uma demanda por produtos e, principalmente, serviços represada. As empresas da Bolsa são as maiores, as mais bem geridas e com mais acesso a capital e mais uma vez saíram da crise mais forte e prontas para consolidar mercado. Quando olhamos de forma micro, enxergamos diversas empresas a valuations bastantes atraentes.
Leonardo Gragnano Morales, Asa Investments: Apesar do recorde dos 130 mil pontos, quando avaliamos o Ibovespa precisamos olhar o lucro das empresas que fazem parte do índice. O lucro das empresas tem vindo muito forte e quando olhamos os múltiplos do Ibovespa, a relação preço/lucro, ainda se encontra depreciada no comparativo com outras Bolsas no mundo. Associado a isso, uma melhora da perspectiva econômica e a vacinação acelerando contribuem para um ambiente mais positivo para as empresas e o mercado tende sempre a antecipar esses movimentos.
É importante sempre avaliar o filme além da foto dentro do mercado. Passada a pandemia, após grande quantidade de estímulos monetários e fiscais no mundo todo, mesmo no Brasil, temos uma busca por ativos reais, principalmente commodities. Dessa forma o Brasil, sem dúvida, é um candidato a se favorecer desse processo. Na visão de longo prazo, ainda acredito que a Bolsa brasileira é um investimento que deve continuar a se beneficiar desse novo ambiente macro com juros mais baixos. Importante atentar que sempre existem riscos como eleição no ano que vem e nosso problema fiscal de longo prazo.
Smartbrain: Em linhas gerais, o que, na sua visão, motivou a escalada da Bolsa?
Ciro Aliperti, SFA Investimentos: Apesar de termos iniciado um movimento de aumento de juros, ainda estamos vivendo um ambiente de juros baixos historicamente no Brasil, o que leva cada vez mais investidores a investir na Bolsa. No ambiente externo, estamos passando por um momento muito bom com crescimento sincronizado entre diversos países e com juros estimulativos que também têm levado investidores estrangeiros a investir em países emergentes. Com o arrefecimento do temor fiscal, já que a dinâmica da dívida tem vindo melhor do que o esperado, a perspectiva de avanço na vacinação e aliado a preços deprimidos ajudou a Bolsa a subir para o atual patamar de 130 mil pontos.
Leonardo Gragnano Morales, Asa Investments: A composição da nossa Bolsa com boa parcela de commodities foi uma das responsáveis por essa escalada. Outro ponto importante que gostaria de destacar foi o forte fluxo recente de estrangeiros que vimos na Bolsa, tanto no mercado à vista como no mercado futuro. Além disso, os juros mais baixos estruturalmente também contribuíram para a busca de retorno com maior risco e acredito que o mercado tem evoluído muito para uma avaliação melhor desse risco/retorno do mercado de renda variável. Muitas empresas hoje, como a própria Smartbrain, têm ajudado muito as pessoas físicas a terem mais informações sobre os mercados e ativos financeiros.
Smartbrain: Além da escalada no Ibovespa, o mercado também assiste uma crescente em ingressantes. Como o sr. avalia o cenário até o final do ano e a tendência é que cada vez mais brasileiros optem pela renda variável?
Ciro Aliperti, SFA Investimentos: Acho que esse é um movimento sem volta. Mesmo que a Selic volte, por exemplo, para 6,50%, as pessoas que entraram na Bolsa nos últimos anos não sairão mais. E se mantivermos um razoável equilíbrio fiscal e por consequência juros ainda em níveis baixos, a tendência é que cada vez mais investidores passem a investir na Bolsa.
Leonardo Gragnano Morales, Asa Investments: Acredito que esse movimento de migração de investimentos da renda fixa para a renda variável tende a continuar, provavelmente em uma velocidade menor da que a gente viu recentemente por conta das altas de juros já contratadas pelo Banco Central, mas a tendência é continuar, sim.
Smartbrain: Analisando setores, quais saíram mais fortalecidos após a primeira onda de Covid-19 e quais são os mais promissores olhando horizontes de curto, médio e longo prazo?
Ciro Aliperti, SFA Investimentos: Cada setor tem sua especificidade e é importante olhar com profundidade cada um para entender sua dinâmica competitiva e vantagens específicas de cada empresa. O setor de moda, por exemplo, foi um que sofreu muito com a pandemia e, portanto, as grandes empresas de capital aberto sairão mais fortes e prontas para consolidar o mercado. Já o setor de tecnologia, apesar de vermos exageros de preços em algumas ações, continua crescendo dado que a digitalização é um movimento secular e que vai se manter por diversos anos. Já o setor de commodities, talvez seja uma dos maiores beneficiados com a crise, dado que muitas cadeias de produção foram afetadas, o que fez que entrássemos num dos maiores ciclos de alta de commodities que já vimos.
Leonardo Gragnano Morales, Asa Investments: Ainda gostamos do setor de commodities que deve gerar muito caixa após a valorização das commodities, mas o processo de reabertura traz oportunidades em outras empresas que ficaram pra trás, como o setor de varejo, por exemplo.