Mercado

Entrevista do presidente da ABAAI sobre o futuro dos AAIs

A Instrução 497 da CVM que regulamenta a atividade dos agentes autônomos de investimentos (AAIs) será modernizada.


É crescente o número de agentes autônomos de investimentos (AAIs) no Brasil e agora está em jogo a modernização da Instrução 497 que regula a atividade. 

Recentemente, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu audiência pública e recebeu sugestões de diversas entidades de mercado. Este foi o primeiro passo para que diversos pontos da regulamentação da categoria sejam aprimorados. 

Diego Ramiro, presidente da Associação Brasileira dos Agentes Autônomos de Investimentos (ABAAI), deu uma entrevista exclusiva para nós da SmartBrain. Ele fala sobre os fatores que impulsionam esta categoria de profissionais da área de investimentos e detalha as reivindicações que a entidade entregou à CVM.

Como será o Agente Autônomo de Investimentos do futuro?

1 - "Hoje, quantos agentes autônomos atuam no País?"

Diego Ramiro: Atualmente, são cerca de 7 mil agentes autônomos de investimentos ativos. Se você consultar o site da CVM, verá mais de 9 mil, porém os que realmente atuam são 7 mil. É o mesmo que acontece com os advogados, há aqueles que possuem registro na OAB, mas não exercem a profissão. Em relação aos agentes autônomos, nem todos os que contam com a certificação e aparecem na lista da CVM estão trabalhando de fato. 

2 - "A categoria de AAIs está avançando? Quais as perspectivas para os próximos anos?"

Diego Ramiro: Começamos a fazer uma pesquisa junto com a FGV (Fundação Getúlio Vargas) para entender melhor o perfil desses profissionais porque acreditamos que o número pode quintuplicar em um horizonte de quatro a cinco anos. Com o open banking, o surgimento dos bancos digitais e as novas plataformas de investimentos, as pessoas terão cada vez mais opções e irão precisar de assessoria para fazer seus investimentos. Um outro fator que não é ligado a profissão em si, mas que a beneficia, é a redução da taxa de juros. Os brasileiros passam a não ter rendimentos tão bons quanto conseguiam nos grandes bancos e precisarão procurar alternativas, sendo que muitas delas acabam sendo via corretoras de investimentos. Além disso, temos visto muitos profissionais de bancos migrando para a profissão de AAI. Esse movimento acontece porque os bancos, ao enxugarem o número de agências, acabam demitindo muita gente. Há também gerentes de banco que se lançam ao empreendedorismo porque querem ter mais liberdade. Por outro lado, observamos que alguns bancos vêm modificando seus modelos de negócios e estão começando a trabalhar com o serviço de AAI.

3 - "Além desses profissionais que estão deixando os bancos, quem mais tem se tornado AAI?  Quais são os perfis dos interessados?"

Diego Ramiro: Muitos profissionais de bancos do segmento de clientes de alta renda passam a atuar como agentes autônomos. Diversos gerentes de bancos que não eram comissionados, contavam com salário fixo, viram a oportunidade de maiores ganhos na área. Além disso, as propagandas das corretoras têm estimulado essa transição. Hoje, muitos jovens que gostam do mercado financeiro, especialmente da Bolsa, acabam se tornando agentes autônomos. Observamos ainda o crescente interesse de diversos profissionais liberais e dos corretores de seguros, que querem agregar a parte de investimentos. Sempre falamos que o agente autônomo nada mais é do que um empreendedor. Os gerentes de banco que têm a cultura de funcionários, precisam se adaptar, isso porque os agentes autônomos não têm salário fixo, montam seus negócios e aumentar os ganhos depende de trabalho de longo prazo. Muita gente pensa que vai virar AAI e ganhar rapidamente um salário de R$ 10 mil, o que não é verdade.

 4 - "As corretoras dão estímulos financeiros para quem empreende na área de AAIs?"

Diego Ramiro: Algumas corretoras têm dado estímulos financeiros para aqueles que conseguem atingir determinadas metas. Por exemplo, R$ 1 mil para cada R$ 1 milhão captados. Hoje, as corretoras querem ter equity, ou seja, querem demonstrar quanto elas têm de patrimônio sob gestão. Então, 99% de todos os incentivos financeiros, até quando um escritório vai trocar da corretora X para a Y, o que vale nas negociações é o patrimônio que se tem. 

5 - "Um agente autônomo de investimentos já pode ser chamado de assessor de investimentos?"

Diego Ramiro: A ABAAI fez uma pesquisa há cerca de um ano com todos os associados sobre qual seria o nome que nós gostaríamos de ser chamados e assessor de investimento foi o que 98,5% acabaram respondendo. Então, fizemos um pedido à CVM que no final passado divulgou um ofício destacando que denominação assessor de investimentos pode ser usada desde que fique claro nas comunicações e nos sites que se trata de serviço de agentes autônomos. Já a mudança efetiva do nome depende de aprovação de lei no Congresso e as discussões em torno de uma proposta estão muito incipientes. Mas só o fato de já podermos falar assessor de investimentos sem o risco de levar multa já é positivo. 

6 - "Por que a ABAAI defende o fim da exclusividade de vínculo dos agentes autônomos com uma corretora para oferta de valores mobiliários como ações, COEs, CRIs, CRAs e debêntures?"

Diego Ramiro: Entendemos que a exclusividade não é benéfica ao agente autônomo, o ideal é que ele pudesse trabalhar com todas as corretoras porque o foco é atender os clientes. A CVM encerrou no fim do mês passado uma consulta pública para modernização da Instrução 597, que regula a atividade dos AAIs, e entregamos as nossas propostas. Em um dos documentos demonstramos que o fim da exclusividade melhora a fiscalização uma vez que o agente autônomo passaria a ter contrato com 2, 3 ou 4 corretoras, portanto, seria monitorado por várias instituições. Essa medida também seria positiva para os investidores. Por exemplo, há corretoras que são melhores para operar Bolsa, outras têm melhores ofertas determinados tipos de ativos e, com a exclusividade, não é possível mostrar aos investidores o que existe de melhor em cada uma delas. Então, o fim da exclusividade é bom para os agentes autônomos, para os investidores e para o regulador. 

7 - "Quais são as outras propostas encaminhadas à CVM?"

Diego Ramiro: Outra pauta importante é a entrada no capital social dos escritórios de sócios que não sejam AAIs.  Até 2012, era possível ter sócios não AAIs até o limite de 2% do capital social, mas depois esse item foi retirado pela CVM. Porém, na prática é uma situação ruim. Atualmente, a entrada de um sócio investidor que não seja agente autônomo não é permitida. Além disso, imagine que eu tenho na empresa um excelente profissional de TI e quero que ele seja sócio, pois pretendo retê-lo no negócio, hoje isso não é possível. Outro problema é a parte sucessória, se eu quiser deixar a empresa para o meu filho, terei que esperar ele passar na prova de agente autônomo para incluí-lo na sociedade. 

8 - "E a associação sugeriu mudanças no escopo de atuação dos agentes autônomos de investimentos?" 

Diego Ramiro: Sim, queremos ampliar na nossa área de atuação até mesmo na parte de produtos, incluindo seguros e previdência, por exemplo. E nosso objetivo é mudar a nossa forma de comunicação com os clientes. Queremos continuar como prepostos das corretoras, mas queremos emitir a nossa opinião como os corretores de seguro podem fazer. Quando um corretor vai vender um seguro de carro, ele pode falar que a seguradora X é melhor do que a Y em determinados serviços e explicar porquê. Hoje, o agente autonômo não pode fazer isso, ele só executa o que os clientes querem. Mas o que queremos mudar é o seguinte, dado que os clientes responderam ao Suitability, questionário de análise de perfil que é exigido pela CVM, a própria corretora já aprovou uma cesta de produtos adequados, então, o que nós pedimos é poder conversar com os clientes e emitir nossas opiniões. No fundo, é isso que os investidores querem da gente. 

9 - "Quanto à forma de remuneração dos AAI, há alguma sugestão de alteração?"

Diego Ramiro: Sim, nós colocamos a possibilidade de cobrarmos diretamente do cliente. Hoje o agente autônomo recebe percentuais da taxa de corretagem, da taxa de administração dos fundos e a parte do fee do CDB – ou seja, comissões ou rebates. O que nós pedimos é que possamos cobrar como se fôssemos consultores, por exemplo, 0,5% ao ano do cliente e devolver todas as comissões de produtos aos clientes. O nome dessa taxa seria taxa de aconselhamento. A ideia é aconselhar dentro dos produtos da corretora. Na verdade, os clientes poderiam optar entre o rebate ou a taxa de aconselhamento.

10 - "Quais as expectativas em relação a essas reivindicações?"

Diego Ramiro: Dia 30 de agosto terminou o prazo da audiência pública da CVM sobre o que é o agente autônomo do futuro. A ABAAI, a Anbima, corretoras e agentes individuais, entre outros, entregaram propostas e sugestões para a modernização da Instrução 497. Segundo a CVM, o prazo para analisar e compilar as informações deve ser de 8 a 10 meses. Desse modo, sairá somente no primeiro semestre de 2020 o edital para edição da norma para vigorar no segundo semestre. Estamos bastante otimistas porque temos relacionamento muito bom com a CVM, sempre fomos bem recebidos. Muitas das nossas pautas devem andar. Hoje, estamos abordando e discutindo temas que eram impensáveis um ou dois anos atrás. 

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