É necessário expandir o horizonte. Os investidores precisam olhar menos para o curtíssimo prazo. Essa é uma mudança necessária diante da taxa básica de juros da economia em nível mais baixo, quando é importante aumentar a participação de ativos mais voláteis nos portfólios. A avaliação é de Gilberto Leite Cesar Filho, um dos sócios da Verus, multi family office com foco na gestão patrimonial de indivíduos e famílias.
Segundo ele, ver o retorno da carteira dia a dia ou mês a mês fazia sentido quando a alocação no CDI era muito grande e, fora dele, pequena. Isso não funciona agora com o aumento dos investimentos em ações e outros ativos de renda variável nas carteiras. “A volatilidade é inerente a estes tipos de investimentos e é o “custo” de se buscar maior rendimento real no médio e longo prazo. Em horizontes mais amplos, não necessariamente representa risco. Só que ficar olhando as oscilações todos os dias acaba dando a percepção errada de um negócio muito arriscado e sem fundamento”, afirma.
No atual cenário, a Verus tem recomendado ações, fundos de ações e fundos imobiliários aos seus clientes, de acordo com análises dos seus perfis e necessidades. “Construímos políticas de investimentos específicas. Cada investidor tem um ritmo e uma tamanho diferente de renda variável na carteira”, diz. Conforme ele, o trabalho dos gestores é fundamental no redimensionamento das posições, pois quando os investidores se sentem muito incomodados com as oscilações, acabam saindo dos investimentos no pior momento.
Quanto aos fundos multimercados, as alocações costumam ser feitas em pequena proporção e com cautela, com base em análise profunda nas alternativas oferecidas no mercado. De acordo com Gilberto Cesar Filho, estes produtos costumam ser caros, com taxas de administração de 2% e taxa de performance de 20% sobre o que exceder o CDI. “Por esse motivo, não gostamos de fundos multimercados com volatilidade muito baixa porque acaba-se pagando muito caro por um pequeno retorno acima do CDI”, ressalta.
A taxa Selic na sua mínima histórica, a maior oferta de produtos distribuídos pelas plataformas de investimentos no país e o aumento da volatilidade no mercado internacional se destacam entre os principais fatores que tem impulsionado a área de gestão de patrimônio atualmente. “Neste cenário, em que se busca alternativas fora do CDI, o custo de tomar decisões erradas é bem maior. Assim, aumenta a demanda por um serviço especializado para adequação das carteiras”, afirma Gilberto Cesar Filho.
De acordo com ele, o potencial de crescimento das gestoras de patrimônio independentes é grande quando se leva em consideração o tamanho do segmento Private Banking e a alocação média das carteiras ainda muito concentrada em produtos tradicionais de renda fixa e na poupança. “Há um universo grande de pessoas que poderiam ter acesso a produtos mais sofisticados e mais adequados aos seus perfis e capacidade de investimentos”, acrescenta.
A Verus teve um crescimento de mais de 15% nos últimos 12 meses, atingindo R$ 1,5 bilhão de ativos sob gestão (AUM), com 50 clientes. “Nosso foco é continuar crescendo com qualidade. Hoje, já estamos em um tamanho que nos dá um bom poder de barganha e acesso a produtos, trazendo ganho de eficiência para as carteiras nossos clientes”, diz Gilberto Cesar Filho. Depois de investir na estrutura de gestão e na parte operacional (middle office e back office), a empresa reforçará a área de captação.
Gilberto Cesar Filho começou a atuar no mercado de family office em 2001, depois ter passado pelas áreas de Análise de Risco e de Tesouraria do ING Bank. Em 2007 decidiu empreender e fundou a Verus, que, no começo, era uma consultoria de investimentos. A partir de 2010, com a entrada de novos sócios, a Verus ampliou seu escopo de atuação como gestora de patrimônio. A empresa é 100% alinhada com os clientes, pois a sua metodologia de remuneração é um percentual sobre o patrimônio administrado. Entre os diferenciais a gestão dos recursos financeiros nos mercados local e internacional conforme políticas de investimentos customizadas e reuniões frequentes para análise das carteiras, consolidando as diversas posições – com todos os ativos, nos diversos bancos e corretoras. Os consultores da Verus também fazem o monitoramento contínuo dos riscos e das novas oportunidades de investimentos.
De acordo com o sócio fundador da Verus, no início do negócio o desafio foi cultural, era necessário explicar aos potenciais clientes o que era e como funcionava um multi family office e a gestão de patrimônio, um modelo de assessoria que já estava bastante consolidado nos Estados Unidos e em muitos países da Europa. “Apostamos neste modelo, no começo tivemos uma curva lenta de evolução, mas sabíamos que havia grande oportunidade de desenvolvimento no Brasil”, comenta.
A partir da recente classificação e regulação da atividade de gestor de patrimônio e com o surgimento de novas empresas no mercado, um número crescente de investidores vem se familiarizando com as diferenças entre os distribuidores de investimentos, que recebem comissões pela venda de produtos, e os serviços de gestão independentes.
Em relação à série de estudos Big Data SmartBrain sobre as aplicações preferidas dos investidores atendidos por assessores independentes que foi lançada no início deste ano, Gilberto Cesar Filho avalia que a iniciativa é positiva. “O estudo terá cada vez mais valor ao longo do tempo, com um histórico, identificando tendências”, ressalta.
Segundo o Big Data, base junho de 2019, a alocação média dos investidores alta renda e private é: os fundos multimercados têm participação de 43,48% nas carteiras; os títulos e fundos de renda fixa representam 35,49%, seguidos por ações e fundos de ações, com 11,32%. Depois, com menores participações aparecem os fundos de previdência, fundos imobiliários e outros. A próxima composição média de ativos nos portfólios, base setembro, será divulgada em outubro.