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Mito ou verdade: o CDI sempre ganha da Bolsa no Brasil?

Written by Cassio Bariani CFP® | 04 Dezembro 2018

Uma afirmação muito comum no Brasil é: “O CDI sempre bate a Bolsa”. Volta e meia, esta expressão vem à tona e já se tornou um clichê. Porém, esse é um assunto que merece ser discutido e analisado de forma mais detalhada.

Quando se trata de estratégias de investimentos, ter conhecimento sobre a dinâmica dos ativos, produtos financeiros e sobre os ciclos econômicos é essencial. Mas, além de contar com informações de qualidade e de fontes confiáveis, os investidores precisam manter o senso crítico aguçado. Como em tudo na vida, avaliações simplistas limitam muito a visão dos fatos.

O Ibovespa é o indicador mais adequado?

A afirmação de que o CDI ganha da Bolsa no Brasil passou a ser recorrente desde o Plano Real. De fato, de meados dos anos 90 para cá, o CDI apresentou melhor desempenho do que o Ibovespa, mas um dos problemas está justamente em usar este indicador do mercado acionário na comparação, pois ele apresenta limitações.

O Ibovespa é o principal índice da Bolsa, porém, é concentrado em poucos setores e baseado na liquidez das ações, ou seja, ele é composto por papéis mais negociados – e não necessariamente por aqueles que têm a melhor performance. Portanto, o Ibovespa é altamente impactado por questões específicas de companhias com grande peso como historicamente é o caso da Petrobras.

Ao trocar o Ibovespa pelo IBrX 100 nessa análise, já vemos que o retorno da Bolsa é maior do que o CDI no mesmo período. Isso porque esse indicador é mais diversificado e mede o desempenho médio das cotações das 100 ações mais negociadas. O IBrX 100 leva em consideração a liquidez, mas também o valor de mercado das companhias participantes.

 

É um equívoco focar em um único período

A década de 90 registrou os maiores juros reais da história, chegaram a bater 25% ao ano. Em função das diversas crises internacionais, do cenário de incerteza política e da escalada da inflação, houve fuga de capitais e as reservas internacionais baixaram drasticamente. Então, o governo ancorou a política monetária em uma taxa de câmbio apreciada e juros bastante elevados na tentativa de reverter esta situação. Foi um período longo, porém atípico.

Ao analisar uma trajetória mais ampla, vemos que de 1967, quando o Ibovespa foi criado, até 1990, a taxa de juro real média foi de 1%, com alguns períodos de juro real negativo. Do início dos anos 90 até 2007, a média subiu para 17%. Os juros reais passaram a cair gradativamente desde então.

Hoje, embora o Brasil ainda tenha uma das maiores taxas de juros reais do mundo, a média é de 4%.

Veja no gráfico abaixo a escalada do juro real na década de 90 e o atual patamar:

Elaboração do estudo: SFA Investimentos 

Os anos 90 foram o paraíso da renda fixa, diante das altas taxas de juros da economia. Nessa fase, os investidores remuneraram seu capital a altas taxas e mantiveram seu patrimônio estável em dólar como demonstra o gráfico seguinte.

Elaboração do estudo: SFA Investimentos

É necessário analisar períodos mais longos

Então, falar que o CDI é melhor do que a Bolsa quando se considera apenas os anos 90, que, como vimos foi um período bastante atípico, não é uma análise muito assertiva.

Ao olhar um horizonte mais amplo, a situação é diferente. Desde 1967, ano de seu lançamento, o Ibovespa – mesmo com as limitações deste indicador, apresentou um retorno de 2.387%, contra 1.062% do CDI.

Vale observar ainda que em renda fixa, é muito difícil um investidor contar com uma rentabilidade igual a 100% do CDI. De 1967 até 1987, os investidores não conseguiam remunerar seu dinheiro a 100% da taxa overnight (indexador de renda fixa que vigorou antes do CDI), sendo que o normal era obter por volta de 85% desta taxa – assim o rendimento real nesse período cai 145%. Essa realidade permanece até hoje, pois é raro um investidor conseguir a taxa de juros integral em uma aplicação de renda fixa, assim, de forma geral, podemos considerar um retorno médio de 95% do CDI.

Portanto, no longo prazo, a Bolsa no Brasil apresentou desempenho superior ao da renda fixa, mesmo passando por fases de intensa volatilidade em função das diversas crises econômicas e dos efeitos de turbulências externas.

 Elaboração do estudo: SFA Investimentos

A gestão ativa nos investimentos em ações

Este estudo comprova que a afirmação de que o CDI é melhor do que investimentos em ações no Brasil é equivocada. Demonstramos isso usando como base apenas o Ibovespa, mas se considerarmos a gestão ativa, os resultados chegam a ser ainda maiores.

Neste caso, os gestores de recursos, consultores de investimentos e investidores experientes desenvolvem estratégias para que os fundos ou carteiras de ações superem o Ibovespa escolhendo empresas de alta qualidade e realizando as movimentações necessárias – compras e vendas de ações ao longo do tempo. A partir de análises profundas das companhias listadas, bem como, do cenário político e econômico, selecionam as ações com o objetivo de superar a rentabilidade deste índice de referência do mercado. O retorno obtido acima desses indicadores é o chamado alpha.

Outro aspecto importantíssimo a ser analisado nos investimentos em ações é o efeito dos pagamentos de dividendos. Há gestores e investidores famosos no mercado brasileiro que investem em companhias que, além de promissoras, são boas pagadoras de dividendos. Ao se considerar este fator de rendimento no investimento e ainda optar por reinvestir os dividendos, amplia-se ainda mais os ganhos.

Existem diversos estudos que mostram que no longo prazo os dividendos têm uma grande contribuição para a performance de uma ação. Veja um exemplo de quem investiu em ações da Itaúsa (Holding do Banco Itaú) ao longo do tempo. Nos últimos 20 anos, a ação valorizou 40 vezes sem os dividendos, ou seja, só a evolução do negócio. Se considerarmos os dividendos pagos no período - sem reinvestimento destes proventos, a valorização sobe para quase 59x. Agora, com reinvestimentos dos dividendos na própria ação, o retorno total avança para 115x.

 Elaboração do estudo: SFA Investimentos

Mito ou Fato?

A expressão “O CDI sempre bate a bolsa” é mito. O fato é que, como acontece no resto do mundo, investir em renda variável durante longos períodos gera mais valor também no Brasil e é natural que assim seja.

As ações são excelentes opções de investimento no longo prazo, sobretudo quando o investidor as enxerga como frações de empresas e não como meros ativos financeiros. Ao manter essa postura, toma-se decisões de compra ou venda baseadas nos preços de cada negócio comparados com os seus valores percebidos, isto é, com os fundamentos das companhias.

Diante da queda da taxa básica de juros no País e de sua manutenção em patamares históricos mais baixos, a diversificação com alternativas em renda variável, ações ou fundos de ações, é um caminho para aumentar a rentabilidade das carteiras de investimentos. Mas para isso, é importante contar com o suporte de agentes autônomos, consultores de investimentos, gestores de patrimônio e de recursos, verificando suas experiências profissionais e track record na gestão de ações.

“Examine bem os fundamentos da empresa, veja o histórico de dividendos, a saúde financeira, a perspectiva daquele setor e o comprometimento do gestor. Seja chato”, diz Luiz Barsi, megainvestidor, considerado um gênio do mercado brasileiro.

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